A Topografia do Invisível

RAMIFICAÇÕES ENTRE CORPO E UNIVERSO

A criação destas paisagens digitais teve início na observação das redes neuronais — estruturas biológicas onde a informação se propaga em circuitos interligados, esculpindo trajetórias de pensamento. Inspirada por essa lógica orgânica, utilizei imagens de redes neuronais como parte integrante na conceção destas peças digitais, transpondo os seus padrões intricados para um novo território visual.

Tal como os neurónios se conectam e expandem impulsos elétricos pelo cérebro, as formas desenvolvem-se aqui como filamentos entrelaçados que crescem e se desdobram, simulando um sistema vivo

A geometria dessas redes, traduzida em relevo digital, torna-se paisagem — uma cartografia fluida onde a estrutura do pensamento encontra eco na topografia.

O pensamento esculpe o ambiente e o ambiente, por sua vez, transforma a mente. A mesma lógica que molda as sinapses e dá forma ao pensamento parece refletir-se na organização da paisagem, como se ambos pertencessem a um único sistema pulsante.

Ao fundir ciência e abstração, a representação do invisível manifesta-se em terrenos que oscilam entre o biológico e o cósmico.

O que antes eram sinapses convertidas em imagem transforma-se agora em território — um espaço onde a matéria e a memória convergem, ressoando como um vestígio daquilo que organiza tanto o pensamento humano quanto o universo.

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Imagem gerada por computador, cortesia de Center for Astrophysics | Harvard & Smithsonian.

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Entre o pensamento e o Cosmos

CARTOGRAFIA CÓSMICA

A concepção das peças digitais Corpuscapes surgiu da necessidade de expandir a escala da matéria, dissolvendo as fronteiras entre o micro e o macro, entre o corpo e o cosmos.

Trata-se de uma exploração da fragilidade do corpo, onde a sua condição efémera é colocada em perspectiva, revelando a sua impermanência face à vastidão do universo.

Explorando pinturas digitais inspiradas em redes neuronais, percebi como as linhas se conectavam, expandiam e se dissolviam, evocando uma comunicação invisível — como sinapses em movimento.

Ao transformar estas imagens em animação, testemunhei a forma como os traços pareciam interagir, prolongando-se e fragmentando-se, como um sistema vivo em fluxo constante.

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Imagem gerada por computador, cortesia de Center for Astrophysics | Harvard & Smithsonian.

Explorações intuitivas no Procreate, criadas de memória a partir de redes neuronais. Utilizando texturas de pedra para evocar a interseção entre natureza e ser humano, estes estudos exploram a fluidez orgânica das conexões neuronais como um exercício de desenho.

Instalação Multimédia

Essa observação levou-me a imaginar uma nova dimensão para o projeto a desenvolver no futuro como instalação artística multimédia: e se estas redes pudessem reagir ao som, como impulsos elétricos percorrendo um organismo vivo?

Assim surge a ideia de explorar a fusão entre imagem e som através de programação — numa instalação onde as linhas vibram, contraem-se e se expandem ao ritmo de sons familiares da natureza. A trovoada, que desenha o céu com as suas ramificações efémeras, torna-se o catalisador dessa metamorfose, fundindo luz, eletricidade e movimento num mesmo pulso.

A cada som de relâmpago, os circuitos desenhados iluminam-se num azul elétrico, pulsando como sinapses do universo antes de se dissiparem na escuridão. O clarão não é apenas luz, mas um estímulo que reorganiza o espaço por instantes, esculpindo paisagens efémeras na matéria invisível do tempo.

O desenho já não é fixo — torna-se assim organismo, vibração, ritmo. Um sistema que respira e responde, onde tempo, som e matéria se dissolvem numa rede interligada de fluxos e transformações.

Esta exploração digital expandiu o conceito de transcendência do corpo humano para um estado de conexão contínua com o universo, ultrapassando a sua fragilidade e efemeridade. Pretendo aprofundar esta ideia através da programação, criando uma instalação física onde os sons da natureza interagem em sincronia com a transformação desta trama de linhas, tornando visível a relação entre matéria, som e tempo.

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